23 de dezembro de 2021

ALMOÇO DE NATAL - por Nogueira Pardal

Pediu-me uma moeda, peguei-lhe na mão 

E levei-o comigo ao restaurante,  

Olhou p’ra tudo com um ar distante 

Baixou a cabeça e olhou o chão. 

 

Senta-te aqui, disse-lhe baixinho, 

Olhou-me surpreso com um ar medroso 

(Alguém o olhou com ar rancoroso!) 

E lá se sentou muito de mansinho. 

 

Olhei-o e disse: Vamos almoçar 

E podes comer tudo o que quiseres.  

Com a mão trémula pegou nos talheres 

E ao olhar p’ra mim já estava a chorar. 

 

Senti-me tremer, esbocei um sorriso:  

Não tenhas medo, ninguém te faz mal,  

Sentes-te estranho, isso é natural, 

Vamos lá comer que é o que é preciso. 

 

Olhei em redor, o ambiente era estranho, 

O ar de funeral deixou-me confuso 

(Será que achavam a criança um intruso 

Por não fazer parte daquele rebanho?) 

 

Com um gesto chamei alguém do balcão, 

Aproximou-se então, com ar atrapalhado 

O que devia ser um solícito empregado 

A cumprir garboso a sua função. 

 

“Mas o senhor quer mesmo que ele coma?” 

(Manter a calma não sei se consigo) 

Porque é que acha que o trouxe comigo, 

Ou p’ra comer aqui é preciso diploma? 

 

Escolhida a comida, as bebidas também 

Lá nos serviram, talvez a contragosto, 

A carne era tenra e tinha bom gosto 

Afinal, os dois, comemos mesmo bem. 

 

Saímos a porta, olhou-me e sorriu, 

Talvez não fosse, mas parecia feliz, 

Senti-me mais pequeno que aquele petiz 

Ao dar-lhe a moeda que antes me pediu. 

 

E sinto-me feliz, porque afinal 

Fui eu que recebi um presente de luz, 

Tive à minha mesa o Menino Jesus 

Num maravilhoso almoço de Natal. 

 

2021-12-15 

Nogueira Pardal 

1 comentário:

brasil -carnaval proibido disse...

Grato e obrigado
Que bela mensagens mesmo para os Homens-Bons.
Continuando a construir um Mundo melhor - a tarefa de hoje e amanhã para que Natal seja todo o dia
Maia