(Editorial do Boletim nº 43 de "O Pharol")
Na década de 40 do séc. XX, em pleno regime salazarista, foi
decidido pelo então Ministério do Fomento e das Obras Públicas, prolongar a já
existente EN 10 da Cova da Piedade até Cacilhas.
A EN 10 já constava no Plano Rodoviário Nacional de 1945, e
prolongava-se desde a Cova da Piedade até Vila Franca de Xira atravessando a
ponte Marechal Carmona, vindo a prolongar-se a partir de 1961 até Sacavém.
Para o início das obras do troço da EN 10 de Cacilhas à Cova
da Piedade, houve que fazer recuar a vertente poente do morro de Cacilhas, ao
mesmo tempo que o sítio da Lapa, pura e simplesmente desaparecia por demolição
dos prédios (poucos) que ali existiam.
Para lá do morro e já na zona da então Margueira Nova
proliferavam diversos estaleiros artesanais de construção naval em madeira, que
vieram a ser expropriados para que as obras do novo troço da EN 10 pudessem
avançar pela margem ribeirinha da Margueira Nova e mais além, pela Mutela, até
à Cova da Piedade.
No projecto desta empreitada, também se incluía a construção
de uma nova via, com início a partir da Margueira Nova em direcção a Almada, que
permitisse um novo e amplo acesso à então Vila de Almada, que só era possível a
partir de Cacilhas, pela Calçada da Pedreira e pela Rua da Oliveira, hoje denominadas por Elias
Garcia e Comandante António Feio, respectivamente.
Esta nova via, que recebeu o topónimo de Avenida
Frederico Ulrich, foi inaugurada no início da década de 1950 e terminava num amplo
espaço que recebeu o nome de Largo Gil Vicente, hoje Praça Gil Vicente.
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Largo
Gil Vicente ainda em obras de remate finais |
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Largo
Gil Vicente em meados da década de 1960 |
Este novo local ao longo do final da década de 1950 e início
da década seguinte, foi sendo melhorado e alindado com canteiros arrelvados e
floridos.
Foi no mandato do então Presidente da Câmara de Almada, Dr.
José Valeriano da Glória Pacheco, (1962 / 1969), que foi decidido criar na zona
central da Praça Gil Vicente, uma área arrelvada e com canteiros floridos com
configuração oval e, no seu centro, um lago circular tendo ao meio, um
fontanário apetrechado com jogos de água e de luz.
Inaugurado em 1967, este novo conjunto ornamental de contemplação
e lazer, tornou-se a “sala de visitas” para quem afluía à então Vila de Almada.
A fonte ornamental rapidamente o povo almadense a
alcunhou de “Repuxo” ou “Fonte Luminosa”.
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Praça
Gil Vicente com a fonte luminosa - anos 70 |
Este espaço manteve-se quase intocável ao longo de 40 anos.
Porém, o inexorável avanço do tempo, o aumento populacional
do Concelho de Almada, a mutação das prácticas políticas, o desenvolvimento
cultural da sociedade, as novas gentes e as novas ideias e a evolução e modernidade
dos meios de transporte, conduziram a que, em nome do progresso, logo no início
do ano 2000, viesse a surgir a ideia de Almada vir a possuir um novo meio de
transporte genericamente designado por metro ligeiro de superfície.
Após o projecto aprovado, as obras tiveram início em 17
Março de 2007 e paulatinamente, no que concerne à Praça Gil Vicente, todo a
rotunda central ajardinada desapareceu em pouco tempo, e o lago e o seu
fontanário demolidos para sempre, ao mesmo tempo que todo o eixo viário central
de Almada ficou “rasgado” ao meio para a instalação das linhas férreas e
apeadeiros.
Da antiga Praça, nada ficou. Da “Fonte Luminosa” que durante cerca de 40 anos, foi um ícone
da Cidade de Almada, resta a memória dum tempo que envolveu algumas gerações e que fazia parte do património da cidade e
da nossa identidade local.
Concluídas as obras, o Metro
de superfície iniciou a sua actividade no troço entre Cacilhas e Cova da
Piedade, em 26 de Novembro de 2008.
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A actual Praça Gil Vicente (2021)
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E como ficou a Praça Gil Vicente?
Sem espaços arrelvados, sem canteiros
floridos, com 12 passadeiras para peões, com filas enormes de carros que a ela
afloram principalmente ao final do dia, com um apeadeiro central formado em
ambos os lados por murais inestéticos forrados a pedra cinzenta lisa, amorfos e
tristes, com sinais de desagregação e já com perda de lajes, sendo visíveis
zonas de incrustações de sais de carbonatos e enfeitados de “graffittis”, sem
qualquer intervenção de manutenção, limpeza e reparação...
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Praça Gil Vicente – 2021 – apeadeiro do metro de
superfície - Em ambos os lados, painéis revestidos a lajes cinzentas, em nítido
início de degradação e grafitados. |
Quanto aos ejectores
de água, parecem perdidos no meio das cinzentas superfícies inclinadas e que
funcionam sem graça e só de vez em quando...
A agradável Praça de
Gil Vicente de outros tempos, tornou-se numa praça “Feia”...
Daí, a justificação
do título deste editorial...
Até quando a sua
remodelação e o seu alindamento?
Um cumprimento ao leitor...
Luís Bayó Veiga