As populações de Cacilhas e da Costa de Caparica sempre tiveram, desde que existem registos e memórias, uma relação fraterna e amigável.
Desde o século XIX era em Cacilhas que algumas famílias da Costa vinham viver alguns meses por ano, para fugir aos rigores do Inverno, pois nesses tempos o mar entrava vila dentro.
No Verão, lá seguiam as excursões para ir à praia, e almoçar nas matas, hábito que se começou a generalizar na década de 1950, quando se começaram a fazer percursos especiais de camionetas da carreira, nos meses de Verão e aos fins de semana, quando o tempo estava de feição.
As pessoas esperavam horas nas filas, que davam a volta ao Cais de Cacilhas, até apanhar a camioneta, para irem depois, calmamente pela “estrada velha”, com muitas curvas, atravessando o Pragal, o Monte, as Casas Velhas e a Vila Nova, até chegar ao alto dos Capuchos, e avistar “o paraíso” que se estendia por quilómetros de areia limpa e verde água cristalina.
A “malta de Cacilhas”, por prazer, a que se juntava a falta de fundos para a passagem, arrancava muitas vezes, ao domingo, às 5 da manhã, estrada fora, rumo à Praia do Sol.
Abalavam em alegre excursão pedestre, com a marmita e a toalha às costas, indo à “chincha” pelo caminho. O regresso é que era pior, pois se não havia massa para a camioneta, lá regressavam, aos grupos pela estrada, já cansados dum dia de folia, queimados do sol, dos banhos, do jogo de ”bola do ring”, do “jogo do mata”, e até das ferozes competições do “jogo da perna”. Muitos namoricos e casamento se fizeram nesses passeios.
A praia da Costa de Caparica sempre foi para as nossas gentes, um local de lazer, onde todos puderam ter tempos de alegria e saudável divertimento. Por isso essa terra faz parte do imaginário e da vivência de muitas gerações de almadenses e cacilhenses, que não podem assistir impávidos à destruição deste património do nosso Povo.
Quando na década de 1950, começaram a tirar areia, junto ao Bugio e Cova do Vapor, ao que parece para encher algumas praias da linha do Estoril, destruíram o equilíbrio ecológico então existente.
Assistimos, nos anos seguintes, à progressiva destruição do areal da Costa, que levou muitas casas de veraneantes e pescadores a irem, literalmente, “por água abaixo”.
Até ao 25 de Abril, nada foi feito para repor a normalidade que tinha existido. E a opinião geral era que tal se devia aos interesses da Costa do Estoril… porque não queriam a concorrência da “banda de cá”.
Todavia, passados 32 anos de Democracia, também nada foi feito. Pelo contrário, até se verificou, nos últimos anos, um estranho agudizar da situação.
Em 1995, verificava-se que a língua de areia entre a Cova do Vapor e o Bugio estava em fase de adiantada recomposição. A Natureza, lentamente, repunha o que alguns homens tinham alterado.
É tempo, agora, de o Estado português intervir para preservar este vasto e rico património natural. É altura de todos os almadenses e todos os portugueses dizerem: Basta! Ao António Neves, Presidente da Junta de Freguesia da Costa de Caparica, a nossa solidariedade neste combate que trava em defesa da sua/nossa Costa de Caparica.
Texto: H. M. e Fotografias: José Lérias.