Ontem foi dia de falarmos e recordarmos o Ginjal — melhor dizendo, o Cais do Ginjal!
Antes de mais, um agradecimento especial à Teresa Ribeiro, do Gira Ginjal, pela iniciativa de reunir pessoas com um interesse comum: preservar as memórias do Ginjal e refletir sobre o seu futuro.
A minha participação foi através das memórias de quem lá viveu — em especial, de quem viveu no nº 52, o pátio. Eu fui das últimas a nascer ali, e o último foi o meu irmão mais novo, ainda no tempo em que as parteiras vinham a casa. Vivi no Ginjal até aos 20 anos, altura em que me casei e fui viver para o Norte. Onze anos mais tarde, após o divórcio e já com dois filhos, regressei.
Os meus pais foram os últimos moradores do pátio… e também os últimos moradores do Ginjal.
A nossa casa ficava logo à entrada: era grande e acolhedora, palco de almoços de domingo e natais de família que ainda hoje todos recordam.
Na casa da Júlia, a criançada podia brincar à vontade e fazer barulho — os vizinhos estavam longe, na outra margem do rio!
Ontem partilhei algumas memórias da minha vivência por lá. Nem todos tiveram o privilégio de recriar as aventuras dos “Cinco” — nós tivemos! Havia a quinta da tia Encarnação e do ti João, os armazéns das redes, a casa velha… cenários perfeitos para a imaginação.
Falámos do passado, mas também dos últimos ocupantes do Ginjal. O que foi feito deles?
Recordámo-los através do filme e das fotografias da Teresa Ribeiro, que mostraram um lado muitas vezes desconhecido: o que se fazia ali, os últimos momentos e as angústias da partida. Revivi a incerteza que os meus pais sentiram quando souberam que teriam de deixar o nº 52, depois de uma vida inteira no Ginjal.
Mas ontem também falámos do presente.
Um presente em que já quase ninguém reconhece o Ginjal.
Deitaram abaixo tudo, alegando que “nada se aproveitava”. Taparam buracos, colocaram iluminação, e o cais que liga Cacilhas aos restaurantes da Praia das Lavadeiras está agora mais seguro.
Mas não é o nosso Cais.
Colocaram algumas fotos e pequenas explicações do que ali existiu — muitas delas até familiares, cedidas pela minha mãe há já algum tempo.
E, inevitavelmente, questionámo-nos:
Qual será o futuro do Cais do Ginjal?
Será um espaço aberto a todos ou apenas para alguns?
É verdade que não podemos viver apenas do passado, mas também é certo que não existe futuro sem memória.
Queremos que o Cais do Ginjal continue a fazer parte das lembranças de quem por lá passa, e sobretudo dos Cacilhenses. Mas não só: ontem ficou claro que o Ginjal também pertence à memória dos Almadenses.
Vamos manter as memórias vivas.
Vamos recordar as pessoas, as empresas, a importância histórica e social do Cais do Ginjal.
Mesmo reduzido a pó, o Ginjal continua vivo dentro de nós.
Queremos um Ginjal para todos.
Queremos um Ginjal que orgulhe os Cacilhenses e que seja, ao mesmo tempo, lugar de memórias e de novas histórias para todos os que por lá passem.
Obrigada Teresa Ribeiro (Gira Ginjal), obrigada Henrique Mota (O Farol), obrigada Ângela Luzia (Historiadora).
Obrigada também a todos os que estiveram presentes.
Voltaremos a reunir-nos para falar do nosso Ginjal!
Carla Carvalho
21/09/2025
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