Esta é daquelas notícias
que gostaríamos nunca ter de dar, mas que não podemos deixar de sobre ela
escrever.
Alexandre Castanheira
(1928-2018) faleceu no passado dia 16 de janeiro. Figura de relevo, de
importância crucial no panorama cultural almadense, deixa em todos que o
admiravam uma sensação de enorme perda.
À família e amigos os
nossos sentidos pêsames.
Resistente antifascista,
defensor da Liberdade e da Paz, esteve preso várias vezes. Viu-se forçado a
passar à clandestinidade e a exilar-se em França tendo regressado a Portugal em
1978.
Esteve sempre ao serviço
das causas sindicais e do movimento associativo marcando de forma intensa a
atividade cultural e educativa em Almada.
O seu papel na defesa do
Poder Local Democrático foi desenvolvido enquanto autarca na Assembleia
Municipal de Almada e enquanto presidente da Assembleia de Freguesia do
Laranjeiro.
Um percurso que mereceu
reconhecimento público com a atribuição da Medalha de Ouro de Mérito Cultural
pela Câmara Municipal de Almada em 1994 e da Comenda da ordem da Liberdade em
2004.
Licenciado em
Histórico-Filosóficas e em Literatura Moderna foi professor na Escola Superior
de Educação Jean Piaget de Almada, diretor da Associação de Ecologia Social e
Urbana “Casa Humana”, formador na área da Poesia para crianças e jovens com
vista à constituição de um Cancioneiro Infanto-juvenil.
Como escritor editou vários
livros: do ensaio ao teatro, passando pelas crónicas e memórias, mas foi com a poesia
que se destacou. Declamador exímio conseguia facilmente contagiar pelo sorriso
aberto e franco e pela empatia que a sua postura despertava em quantos o
ouviam.
Desde sempre se interessou
pela divulgação da poesia fazendo recitais em escolas e coletividades em
Almada, mas também por todo o país. Participava ativamente nas atividades da
associação informal Poetas Almadenses e raramente faltava aos encontros
mensais de Poesia Vadia.
“O Farol” recorda a amizade
e solidariedade que sempre recebeu de Alexandre Castanheira que muitas vezes nos
lembrava a sua vida familiar em Cacilhas e os amigos da Rua Cândido dos Reis e
da Parry & Son.
Almada ficou mais pobre
com a sua partida, mas ficam as suas palavras para nos acompanhar naquela que é
a sua faceta mais romântica:
Nada
e tudo
Parti numa hora de loucura
e agora longe de ti
vivo arrastado
o desejo da ausente
que vislumbro
e sinto no fundo de mim
presente
resultado do silêncio
disseminado em ondas de calor
inundando este vazio pleno
Entre o nada e o tudo
o que me falta e o que
contenhoe o que pressinto de ti
a cada momento te amo
mais e mais e mais
e mais repito ainda
que te direi uma vez mais
como te amo
A sombra deste sol
abrasador
fermenta o nosso amornum cosmos azul profundo
onde te direi
envolta em nuvens de prazer
e felicidade
no momento extraordinariamente preciso
de te apertar enfeitiçado
e magnético
nos braços ávidos de carícias
COMO TE AMO.
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