Lançamento do livro "O teu relâmpago na minha paz",
de Luís Miguel Raposo
de Luís Miguel Raposo
dia 10 de Março, às 15h
Fórum Romeu Correia - Almada
«joão pedro gosta de todas
as coisas arrumadas nas suas gavetas. de certo modo, o seu mundo é uma estante,
com tudo organizado e composto, sempre à mão e identificável. como quando vamos
ao supermercado e seleccionamos as compras de entre o sortido disponível e
depois as arrumamos eficientemente nos lugares respectivos para quando são
necessárias. diversas prateleiras onde joão pedro arruma o seu trabalho, os
seus amigos, o seu relacionamento com a vera, onde se arruma a si próprio de
acordo com o que recebeu dos pais. há uma certa paz na selecção de coisas que
fez para limitar o mundo ao seu interesse nele, transformado-o na sua
realidade, o encurtamento de uma realidade maior, onde se sente confortável e
em segurança. amarrado às memórias antigas do pai, agora tão distante do homem
que foi como do próprio filho, desde que a mulher morreu, joão pedro não
encontra formas de reacender a relação com o pai, finalmente afastado de tudo e
também do que dele próprio reside na memória de joão pedro. director de uma
agência bancária, conhece um dia carla, a quem o banco recusara crédito para a
compra de casa. nesse dia, joão pedro, decide, contra as regras vigentes,
aprovar o crédito a carla, carla que veio a ser o arauto do seu destino
renovado e o gatilho de todas as mudanças que veio a enfrentar. à medida que
vai conhecendo carla, joão pedro toma conhecimento de uma realidade que não
existia dentro dos muros que ergueu para limitar a sua própria realidade. a sua
relação com a vera começa a definhar, a distância para o seu pai a aumentar,
acendendo-se as divergências com os seus amigos e o seu trabalho. joão pedro
vai conhecer o mundo de carla, um mundo que anteriormente não existia para ele,
um mundo alternativo, onde imperam os ambientes góticos, a música de carla, ela
própria vocalista de uma banda gótica, mas também o surf que carla adora fazer,
as coisas e as estranhas pessoas que existem no mundo de carla e vai-se
apaixonando por tudo isso, mesmo se nem sempre isento de percalços. no espaço
de três semanas, nas quais todas as peripécias da sua vida adulta aconteceram,
joão pedro destrói todas as suas percepções intelectuais para poder edificá-las
de novo de acordo com o seu renovado interesse. mas, no caminho, vai tomando
consciência que nunca poderá ter carla, nem recuperar o que perdeu para estar
com carla, carla que é uma arma carregada que joão pedro disparou a si mesmo.»
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