24 de abril de 2024

25 de Abril

Em Memória de Maria Rosa Colaço, nossa sócia fundadora, poeta professora e amiga, com a enorme saudade dos seus alunos e das famílias de Cacilhas. SEMPRE VIVA NA NOSSA MEMÓRIA!!!

 

(Poema feito no dia 25/4/1974 na cidade da Beira, Moçambique)

Ao primeiro minuto deste dia
eu maria rosa poeta-professora e
mulher confiante
aqui estou de pé contra a noite
para escrever as letras claras do teu
rosto LIBERDADE

Ao segundo minuto deste dia
não sei de outra alegria melhor
que repetir esta palavra
desaprendida
LIBERDADE

E ao terceiro minuto deste dia
eu maria rosa criança por dentro e
mulher de sorriso triste
vencendo e silêncio o medo e o
terror
digo ainda uma vez mais as tuas
letras brancas
LIBERDADE

Porque é preciso que por muito
repetido o teu nome LIBERDADE
seja comece a ser a palavra
quotidiana do coração dos homens
Porque desejo que os soldados que
amanhã desfilarão na marcha do
dever sejam surpreendidos com o
som novo desta palavra e a
pendurem no cano das espingardas;

Porque quero que o moleque que
noite ainda vai comprar o pão que
comes a pressinta branda
e lhe seja a primeira estrela da
manhã
porque é necessário
urgentemente necessário
que a partir de agora
em ti repare  
o capataz e o homem das laranjas
e menino da escola o rapaz das
cautelas
a manana e o director                         

 e o inspector
e o servente
e a cigarra e a formiga
e o médico e a enfermeira
e o padre e a beata
e o carcereiro e o ferido
e os humilhados e os ofendidos

Porque é preciso LIBERDADE
que o teu nome
a partir de agora
se espalhe pelas quatro pontas da
rosa dos ventos e atravesse mares e
fronteiras
e as sete cores do arco-íris
e fique suspensa nos olhos
nos lábios no coração de quem se
encontra

e porque é preciso que todos saibam
que todos vejam
que todos digam que todos
aprendam e respeitam e se não
esqueçam
que o teu nome tem
nove letras
nove letras poderosas
que se lêem LIBERDADE
que se escrevem LIBERDADE
que se cantam LIBERDADE

que se gritam LIBERDADE

Aos dez minutos deste dia
dia vinte e seis de Abril de mil
novecentos e setenta e quatro
de pé contra a noite do meu país
eu digo pela primeira vez sem olhar
em volta
esta palavra
eu oiço-me nestas sílabas
eu bebo estas letras como um vinho
novo
De pé contra o medo
e por ti
aqui estão as mulheres traídas


 

Sem comentários: