Sentado à mesa tosca onde me invento
Em poemas de raiva ou de alegria,
De amor, de paz e luta ou de saudade,
A mesa onde afinal só me alimento
Dos sonhos que às vezes, por magia,
Parecem mesmo ser a realidade.
Os sonhos que afinal foram reais
Naquela manhã de Abril abençoada
Quando a pomba da paz veio nos canhões,
As balas eram cravos naturais,
E a tropa que chegou de madrugada
Acendeu a luz nos nossos corações.
A liberdade era agora uma rainha,
O tirano estava morto às mãos do povo
Que o matara com poemas e canções.
A ditadura agonizava triste e sozinha
E nem lhe valiam já as orações
Dos que, de sotaina, viviam de traições.
Encheram-se as ruas do país,
O povo ergueu os braços a cantou:
Agora é mesmo tempo de sonhar,
O dia de amanhã será feliz,
Morreu o ódio que por aqui andou
E até aos tiranos vamos perdoar.
Como diz a canção “é festa pá”
Só que, não podemos festejar
Porque outra ditadura, a pandemia,
Resolveu, em má hora, vir p’ra cá.
Mas também esta, vamos derrubar
E p’ro ano festa rija e alegria.
Nogueira Pardal
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