18 de Janeiro (sexta-feira), às 21h
no Chá de Histórias
R. Cândido dos Reis, Cacilhas
O fim da segunda guerra mundial
abriu caminho a um desenvolvimento económico, político, social e cultural sem
precedentes na sociedade. Novas estéticas e novas teorias filosóficas e
psicanalíticas influenciaram e moldaram correntes como o teatro do absurdo, o
"living theatre", Becket, o "nouveau roman", o cinema
underground, a "nouvelle vague", a pop art, a op art, a música
concreta, o bop e o free jazz, a dança moderna, para mencionar apenas algumas.
Impelidas, todas elas, pelo grande ímpeto de mudança que varria a sociedade.
É neste contexto que irá surgir,
em meados de 50 nos Estados Unidos, um movimento musical designado por rock'n'
roll - uma mistura de elementos do country e do rhythm 'n' blues -, cuja
principal voz será a de Elvis Presley. Este movimento, por sua vez, estará na
origem da eclosão doutro iniciado em Inglaterra e nos Estados Unidos em
princípios de 60, cujos principais mentores serão Bob Dylan e os Beatles, e que
irá produzir uma verdadeira revolução não apenas musical mas igualmente no plano
das mentalidades. O rock encarnava de certo modo a rebeldia da juventude, a sua
vontade de mudar costumes e ser protagonista. Em meados de 60, a mudança na
sociedade era tão profunda que mal se conseguia imaginar como eram as
realidades dez anos antes.
O que começou por ser uma música
simples e directa, como era o rock de 50, transformou-se, em meados de 60, num
fecundo caleidoscópio musical. O rock e o pop assimilaram o folk, os blues, o
country, o rhythm 'n' blues, o soul, o funky, Sinatra & cª, elementos do
jazz, do clássico, da música concreta e electrónica; elementos doutras
culturas, como por exemplo da música latina ou indiana. Já não era de admirar
se os Beatles gravavam discos com o recurso a gravações invertidas como era
usado na música electrónica ou se usavam uma grande orquestra, como na sua
obra-prima absoluta de 1967 que dá pelo nome de 'A Day In The Life'. O dilema
clássico-popular foi ultrapassado pela sofisticação das formas e conteúdos
inerentes às novas condições de produção. E isso independentemente de todo o
comercialismo montado pela máquina da indústria discográfica.
Mas a grande mudança tinha
começado ainda nos anos 40 no jazz com o movimento bop e Charlie Parker.
Emergiram Thelonious Monk, Miles Davis, Ornette Coleman, John Coltrane. Os
talentos, então, começaram a brotar: Presley, Dylan, Lennon, McCartney, Mick
Jagger-Keith Richards, Tim Buckley, Lou Reed, Leonard Cohen, Van Morrison,
Frank Zappa, Sandy Denny, Joni Mitchell, Ray Davies, Brian Wilson, Jimi
Hendrix, Syd Barrett, Neil Young, Phil Ochs, David Bowie, Brian Eno, Brian
Ferry, Robert Wyatt. Noutras latitudes surgiram Jobim e Chico Buarque, Brel e
Brassens e José Afonso. Esta 'movida' global, se assim lhe quisermos chamar,
apesar dos meios de expressão diferentes, é um dos mais importantes movimentos
culturais e artísticos do século xx. É com o advento do rock em meados de 50
que começou a massificação da venda do disco de vinil, depois ampliada em 60.
No princípio de 60 aparece o stereo e os reprodutores - os gira-discos -
tornam-se mais sofisticados. Emerge uma poderosa indústria da qual o elemento
nuclear é o disco de vinil. A música entrou no nosso quotidiano já não apenas
através da rádio mas também através do disco de vinil, que tinha então os
formatos de LP, EP e Single.
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