14 de agosto de 2012

Poema de Alexandre Castanheira

Foi num 18 de Junho, há três anos, que se registou em Cacilhas uma verdadeira ressurreição. Fugiu da cruz a que lhe tinham amarrado lá para as bandas dos Açores, caminhou pesadamente à procura do seu antigo posto, que já não encontrou, e decidiu elevar-se aos céus, para todo o tempo. Os inúmeros amantes da luz que de si irradiava, quais novos apóstolos redentores dessa humana claridade com que expulsam as negruras, atestam que o viram subir no espaço estrelado da imensidão do firmamento, partindo de  um lugar próximo do que tivera antes. Em coro clamaram: "Ressurreição!".
E desde aí ninguém o vê nas alturas mas todos se sentem felizes por o terem entre os homens,naquele belo pontão.



Era um lugar aprazível
à beira de um majestoso rio
onde o sol vinha ocultar
o perpétuo e triste cinzento
com que tenebroso déspota
abafava ansiadas esperanças
de ver colorir-se e fixar-se
na bela e generosa terra
o maravilhoso azul  do céu.

Recordai! Quanto era cinzentão
este pequeno marítimo lugar!
Mas no mais denso nevoeiro
sempre irrompiam uns finos
luminosos raios de futuro
e o som estridente mas meigo
da salvação que anulasse
a maldição infame do temeroso
desumano e infeliz presente.

Farol? Certo: estava ali um farol!
Os bem-vindos raios de luz ele
os forjava bem alegremente
enquanto outros bem-quistos raios
vindos dos olhos das mulheres,
dos fortes músculos dos operários
e dos românticos corações jovens,
cortavam o acinzentado espaço,
numa espécie de silêncio lutador
que acendia o clamor vibrante
do  claro amanhã tão desejado.

Homens, mulheres, jovens ardentes
edificadores inultrapassáveis
do que havia de ser um dia seguinte,
ambicionado e primaveril
reduzido ao infinitamente grande
mago de um mês de Abril.
Das suas mentes saíam projectos
de uma diferente e sã existência ...
também manifestos de certezas
compostos na tipografia do Feio,
que afirmavam ser possível
gerar um vero País de liberdade ...
erguer tijolo a tijolo um mundo de paz,
ajardinado alegremente de cravos
vermelhos, por homens que haviam
de rejuvenescer na bela Cacilhas
o que Cacilhas há tanto merecia.

Assim, este País, em festa do porvir,
deu novo sentido à sã amizade
solidária do amor e da fraternidade
que os feixes luminosos e o som
do nosso querido farol semearam
 no coração e mente dos cacilhenses.


                   Alexandre Castanheira

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