10 de dezembro de 2008

O último faroleiro de Cacilhas


Como homenagem ao senhor Sameiro - Histórico Faroleiro de Cacilhas, falecido em 11 de Dezembro de 2008, publicamos uma entrevista, que lhe foi feita por um grupo de alunos da Escola Secundária Cacilhas Tejo (e que se encontrta disponível em http://web.educom.pt/fr/passos/carlossameirofaroleiro.htm):


Carlos Sameiro, um dos últimos faroleiros de Cacilhas


«Em 1936, com 25 anos, Carlos Sameiro veio para Cacilhas com o objectivo de trabalhar nesta região.

Tendo como seu principal ofício a serralharia mecânica, cedo resolveu seguir as pisadas do pai e tirou um curso suplementar de faroleiro no Farol Escola de Leça da Palmeira - “… Tive a tirar um curso no farol escola, na Leça da Palmeira(…) o nosso professor era um oficial da marinha…”.


Durante o tempo que permaneceu em Cacilhas, tornou-se sócio da Incrível Almadense e dos Bombeiros Voluntários de Cacilhas, “ … Fui sócio da Incrível, depois saí quando tive que sair de Cacilhas e deixei de ser sócio, e sou sócio dos Bombeiros Voluntários. Sou o 110”.


Questionado quanto à sua vinda definitiva para Cacilhas, o Sr. Sameiro, recorda os motivos que o levaram a fixar-se aqui junto ao Tejo, referindo que, a sua mulher, com a qual esteve casado durante setenta e cinco anos, tinha adoecido e esse foi o principal motivo para a sua definitiva estabelecimento em Cacilhas “ Vim parar aqui a primeira vez, porque tinha saído daqui um faroleiro, mas não estava sozinho, estava com outros faroleiros, e ao fim de nove anos sai. Voltei novamente e estive aqui mais um ano até que sai para ir chefiar o farol do Cabo Espichel. Depois voltei outra vez para Cacilhas porque a minha mulher estava muito doente (…) tinha que ser operada. Fui ao comandante (…) até que ele me disse que podia vir e pronto estive cá 10 anos e cá me reformei.”


O Sr. Sameiro não exerceu apenas funções de faroleiro em Cacilhas, passou por muitos outros faróis, como por exemplo, o do Cabo Espichel, o de S. João da Barra, o de Vila Real de Santo António, o de São Vicente, o de São Martinho do Porto, o de Cabo Raso e ainda o de Sagres.


A sua vinda para Cacilhas, valeu-lhe não só a ligação a esta terra, como o conhecimento de algumas pessoas ilustres, como por exemplo, os Durões, o comandante Eduardo Alves, o comandante Feio e Hernâni da Silva.


Sr. Sameiro relembra com alguma tristeza a saída do farol para os Açores, “…Quando vi o farol a ser desmontado comecei a choramingar, as lágrimas começaram a cair…” . Segundo o faroleiro, o farol “tinha dois sinais sonoros, dois motores para quando houvesse nevoeiro, um motor de exclusão, que se punha a funcionar para dar ar a um reservatório através de um compressor”. Na altura da sua construção o farol trabalhava a petróleo, mais tarde começou a funcionar a gás catalítico e, depois, passou a funcionar a electricidade, “Tinha um computador que quando faltava a electricidade ligava para o gás automaticamente e quando vinha a electricidade, desligava o gás e passava novamente para a electricidade…”.


A sua função dentro do farol era trabalhar com motores a electricidade, geradores eléctricos e tinha também toda a responsabilidade pelos materiais que existiam no farol.


Podemos divulgar que, com 87 anos, o Sr. Sameiro vive na esperança de ainda poder voltar a ver o farol voltar a Cacilhas e a funcionar como funcionava na altura em que nele trabalhava.


Queremos, por fim, agradecer primeiramente ao Sr. Carlos Sameiro, por se ter disponibilizado e se ter deslocado a nossa escola e ao professor António Ramos, por nos ter disponibilizado algumas informações adicionais sobre o farol de Cacilhas.»

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