23 de janeiro de 2018

Alexandre Castanheira (1928-2018)



Esta é daquelas notícias que gostaríamos nunca ter de dar, mas que não podemos deixar de sobre ela escrever.

Alexandre Castanheira (1928-2018) faleceu no passado dia 16 de janeiro. Figura de relevo, de importância crucial no panorama cultural almadense, deixa em todos que o admiravam uma sensação de enorme perda.

À família e amigos os nossos sentidos pêsames.

Resistente antifascista, defensor da Liberdade e da Paz, esteve preso várias vezes. Viu-se forçado a passar à clandestinidade e a exilar-se em França tendo regressado a Portugal em 1978.

Esteve sempre ao serviço das causas sindicais e do movimento associativo marcando de forma intensa a atividade cultural e educativa em Almada.

O seu papel na defesa do Poder Local Democrático foi desenvolvido enquanto autarca na Assembleia Municipal de Almada e enquanto presidente da Assembleia de Freguesia do Laranjeiro.

Um percurso que mereceu reconhecimento público com a atribuição da Medalha de Ouro de Mérito Cultural pela Câmara Municipal de Almada em 1994 e da Comenda da ordem da Liberdade em 2004.

Licenciado em Histórico-Filosóficas e em Literatura Moderna foi professor na Escola Superior de Educação Jean Piaget de Almada, diretor da Associação de Ecologia Social e Urbana “Casa Humana”, formador na área da Poesia para crianças e jovens com vista à constituição de um Cancioneiro Infanto-juvenil.

Como escritor editou vários livros: do ensaio ao teatro, passando pelas crónicas e memórias, mas foi com a poesia que se destacou. Declamador exímio conseguia facilmente contagiar pelo sorriso aberto e franco e pela empatia que a sua postura despertava em quantos o ouviam.

Desde sempre se interessou pela divulgação da poesia fazendo recitais em escolas e coletividades em Almada, mas também por todo o país. Participava ativamente nas atividades da associação informal Poetas Almadenses e raramente faltava aos encontros mensais de Poesia Vadia.

“O Farol” recorda a amizade e solidariedade que sempre recebeu de Alexandre Castanheira que muitas vezes nos lembrava a sua vida familiar em Cacilhas e os amigos da Rua Cândido dos Reis e da Parry & Son.

Almada ficou mais pobre com a sua partida, mas ficam as suas palavras para nos acompanhar naquela que é a sua faceta mais romântica:



Nada e tudo

Parti numa hora de loucura
e agora longe de ti
vivo arrastado
o desejo da ausente
que vislumbro
e sinto no fundo de mim
presente
resultado do silêncio
disseminado em ondas de calor
inundando este vazio pleno


Entre o nada e o tudo
o que me falta e o que contenho
e o que pressinto de ti
a cada momento te amo
mais e mais e mais
e mais repito ainda
que te direi uma vez mais
como te amo


A sombra deste sol abrasador
fermenta o nosso amor
num cosmos azul profundo
onde te direi
envolta em nuvens de prazer
e felicidade
no momento extraordinariamente preciso
de te apertar enfeitiçado
e magnético
nos braços ávidos de carícias

COMO TE AMO.

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